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Memórias de um Sargento de Milícias

Memórias de um Sargento de Milícias foi publicado entre 1852 e 1853 em folhetins anônimos em A Pacotilha, suplemento dominical do Correio Mercantil. Os capítulos saíam à proporção que eram escritos, semanalmente. Em livro, a obra foi lançada em 1854.
O livro de Manuel Antônio de Almeida é romântico, todavia, sua sensibilidade não se derramava tanto quanto a dos ultrarromânticos, que constituíam a grande novidade poética na época. 

MANUEL ANTÔNIO DE ALMEIDA
De origem humilde, Manuel Antônio de Almeida nasceu em 1831. Apesar das dificuldades financeira, Manuel conseguiu formar-se em Medicina, mas nunca clinicou. dedicou-se sempre às artes, tanto ao desenho quanto à Literatura.
Para se manter nos estudos, traduzia folhetins franceses, escrevia crônicas e críticas para o correio Mercantil, jornal que publicou os folhetins dominicais de seu romance. Em 1858, Manuel Antônio foi nomeado diretor da Tipografia Nacional, ocasião em que teve oportunidade de auxiliar o então tipógrafo Joaquim Maria Machado de Assis, mais pobre e desvalido do que ele. Manuel Antônio morreu em 1861, aos 30 anos, num naufrágio na Baía da Guanabara, quando fazia campanha a deputado.
Considerado uma "voz de exceção" em nosso Romantismo, pela originalidade da obra que criou, Memórias de um Sargento de Milícias.
Esta obra contrasta com os romances de sua época por afastar-se do modelo romântico europeizado, sobretudo porque:
- rompe com as categorias maniqueístas (heróis X vilões), criando um protagonista (Leonardo) anti-herói;
- sua linguagem despojada conversa com as marcas da oralidade e o tom da crônica de jornal;
-  ao idealismo açucarado do estilo romântico, opõe a ironia, o bom humor e o registro jocoso dos costumes populares.

RESUMO
Leonardo, o protagonista, é filho de "uma pisadela e de um beliscão" entre um meirinho, Leonardo Pataca, e uma saloia, Maria da Hortaliça, quando vinham num navio, de Portugal para cá.
Desde a "folia" do seu batizado, o major Vidigal, policial representante pela lei e pela ordem, começa a persegui-lo.
Os pais se separam, devido à infidelidade da saloia, e o menino, aos sete anos, é adotado por seu padrinho, o barbeiro, que lhe dedica muito amor e todos os cuidados, pretendendo no futuro transformá-lo em sacerdote. Mas, Leonardinho, preguiçoso e desordeiro, faz estripulias na escola, que cedo a abandona, e também na Igreja, onde se torna coroinha até ser enxotado pelo padre. Enfim, ele não se interessa nem pelos estudos nem pelo trabalho, e cresce como um desocupado, entregue a toda sorte de malandragens.
Quando adulto, apaixona-se por Luisinha, que, no entanto, casa-se com José Manuel, um renomado caça-dotes.
Leonardo perde o padrinho, que vem a falecer, e deixa sua herança para o rapaz. Como era menor, o pai, Leonardo Pataca, volta a ficar com  o filho. A esse tempo, o pai já casara com Chiquinha, que não se entende com Leonardinho e brigam muito. Numa certa parte da história, a briga é muito pesada e ele vai embora da casa do pai. Assim, ele encontra um grupo de jovens, em que reconhecce um amigo  de infância e  conhece Vidinha, uma mulata de vinte anos. Instala-se na casa da nova namorada, onde moravam duas senhoras viúvas, cada uma com três filhos, três rapazes e três moças. Dois primos não gostaram do envolvimento de Leonardo com Vidinha, por isso armaram com o major Vidigal para que o rapaz fosse preso. A caminho da prisão, escoltados pelo Major e os granadeiros, Leonardo consegue fugir antes de chegar à cadeia. Arranja um emprego na despensa real, de onde sai por arrumar novas encrencas: tenta conquistar a mulher de um colega...
O major enfim o agarra e o transforma em soldado, a fim de não perdê-lo de vista.
Entretanto, Leonardo de novo é preso, por ajudar um jogador a fugir, numa batida em que deveria capturá-lo.
Nessa ocasião. em que se anuncia o desfecho da história, a comadre, personagem que protege o rapaz, pede ajuda a D. Maria, tia de Luisinha. As duas vão falar com Maria Regalada, ex-amante do major, que interceda a seu favor. Então, Leonardinho não é apenas solto como também promovido a sargento de milícias, reencontrando Luisinha, que enviuvara, e casando-se com ela, já empregado e de posse da herança que lhe deixara o barbeiro.

PERSONAGENS
Leonardo - protagonista da história. filho de Leonardo Pataca e Maria das Hortaliças. O anti-herói, passa a infância e a juventude aprontando, até se tornar sargento, casa com Luisinha e ganha a herança deixada pelo padrinho.

Leonardo Pataca - pai de Leonardo, meirinho e tem um fraco por mulheres.

Maria das Hortaliças - mãe de Leonardo. Conhece Leonardo Pataca no navio vindo de Lisboa. Trai o marido  e vai embora com um capitão do navio, deixando para trás também o filho.

O compadre - padrinho de Leonardo, dono de uma barbearia e toma a guarda de Leonardo após os pais abandonarem a criança sempre mimado-o e defendendo-o. 

A comadre - mulher gorda e bonachona, apresentada como ingênua, frequentadora assídua de missas e festas religiosas, mas que adora fofocas. Também defende e acompanha Leonardo em qualquer situação.

Major Vidigal - homem alto, não muito gordo, com ares de moleirão. Apesar do aspecto pachorrento, era quem impunha a lei de modo enérgico e centralizado. Persegue Leonardo até conseguir ingressá-lo nas forças milicianas.

Dona Maria - mulher idosa e muito gorda, não era bonita, mas tinha aspecto bem-cuidado. Era rica e devotada aos pobres. Tinha, contudo, o vício das demandas (disputas judiciais).  Ganha a guarda de Luisinha, sua sobrinha, quando a menina perde os pais.

Luisinha - sobrinha de dona Maria. Seu aspecto, inicialmente sem graça, se transforma gradualmente, até se tornar uma rapariga encantadora. 
Casa-se com José Manuel, por influência da tia, arran­jando um marido que só deseja seus bens. É órfã. Fica viúva e une-se a Leonardo. 

Vidinha - mulata de 18 a 20 anos, muito bonita, que atrai as atenções de Leonardo.

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